Gestalt-terapia: quando a forma do mundo se revela no encontro
- Beatriz Cristina

- 10 de out.
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de nov.
Uma abordagem que não ensina o que sentir, mas convida a perceber o que já está vivo.
O que é uma abordagem na psicologia?

Toda psicoterapia parte de um olhar. Uma lente que recorta o mundo, como quem escolhe um enquadramento para enxergar melhor o que, sem foco, pareceria confuso.
Há lentes que olham para o passado e suas feridas, outras para os pensamentos e suas narrativas, outras ainda para o comportamento e suas repetições. Nenhuma é superior à outra, cada uma revela algo diferente da experiência humana.
A Gestalt-terapia é uma dessas lentes. Mas talvez seja menos uma lente e mais um modo de estar em presença. Um olhar que não apenas vê, mas se deixa tocar pelo que vê.
Gestalt: palavra que significa forma, mas também movimento
Gestalt é uma palavra alemã difícil de traduzir por inteiro. Quer dizer forma, configuração, desenho. Mas uma forma viva, que se faz e se desfaz conforme o olhar, conforme o contexto.
Na Gestalt-terapia, interessa-nos como a experiência se organiza agora, o que se faz figura no momento presente, e o que permanece fundo, silencioso, mas ainda ali, sustentando o campo da experiência.
A cada instante, algo em nós ganha contorno: uma emoção, uma lembrança, uma tensão no corpo, uma saudade, uma raiva, uma vontade de mudar. Isso é a figura.
Tudo o mais: o contexto, o ambiente, o passado, o não dito, forma o fundo. E juntos, figura e fundo, dançam continuamente.
Quando a queixa chega, a figura já começou a se formar
Quem busca terapia costuma chegar com algo que incomoda:
“Não sei o que está acontecendo comigo.”
“Sinto um vazio que não tem nome.”
“Tudo parece bem, mas algo pesa.”
Essas frases são, na verdade, o início da figura emergindo. Algo que estava disperso começa a ganhar forma, pedindo reconhecimento.
Na Gestalt, o terapeuta não tenta “resolver” a queixa, ele acompanha a figura enquanto ela se mostra, com curiosidade e respeito. É um exercício de presença compartilhada, onde o que estava fragmentado pode se integrar novamente.

A experiência como caminho (e não como explicação)
Outras abordagens podem buscar compreender o porquê, a origem, a causa, a história. A Gestalt, sem negar essa importância, se pergunta:
“O que acontece com você agora, enquanto fala disso?”
Essa pergunta muda tudo. Porque desloca o foco da narrativa para a vivência. Do passado para o instante presente. Do “entender” para o “sentir”.
É nesse aqui-agora que se revela o modo de estar no mundo, as interrupções do contato, as tentativas de adaptação, os gestos que ficaram suspensos no tempo.
O terapeuta como testemunha do processo
Na Gestalt, o terapeuta não interpreta o outro, ele se encontra com o outro. Não traduz, não nomeia o que o cliente sente, mas oferece presença para que o próprio sentir encontre palavra, corpo, gesto.
É um trabalho que não busca respostas, mas integrações. Porque quando algo é reconhecido com presença, ele não precisa mais gritar.
A arte de estar em contato
A Gestalt-terapia é, no fundo, uma arte de contato. Um convite à consciência do que se passa, entre nós, em nós e através de nós.
Ela não promete que o desconforto vai desaparecer, mas que ele poderá ser olhado, sentido, acolhido. E, nesse olhar, algo se reorganiza.
Como na figura e fundo: quando damos espaço ao que emerge, o que estava confuso encontra forma,e o que parecia fundo demais, ganha luz.
Talvez seja isso: uma forma de habitar o agora
A Gestalt não é apenas uma teoria sobre o ser humano. É um modo de estar vivo: curioso, presente, em relação. Um modo de permitir que o sentido se revele na experiência.
Porque, afinal, a vida é sempre figura em movimento. E a terapia é o espaço onde podemos ver, com mais clareza e ternura, a forma que estamos sendo.
Quer descobrir a forma que sua experiência vem pedindo para ter?
Beatriz Cristina de Miranda Barbosa I CRP: 06/182287

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